segunda-feira, fevereiro 18, 2008

na repartição



de papel na mão,
chegou ao balcão
da repartição

a funcionária,
autoritária,
disse-lhe para esperar
e pôs-se a conversar
com a colega do lado

ele esperou um bocado
mas sem resultado
então, com uma careta,
meteu a mão na jaqueta
e retirou, afoito,
a arma preta,
calibre 38

a funcionária seguinte,
amável,
atendeu-o com requinte,
e quando ele pediu rapidez
ela assim fez,
enquanto a mulher da limpeza
esfregava com destreza
o chão molhado
de sangue empastado

de papel na mão,
afastou-se do balcão
da repartição

3 comentários:

Unknown disse...

Hummm... poesia necrológica!!! Muito apropriada! Espero que não seja um caso da tua vida!

Medeia disse...

Olá queridos colegas...
Saudações bloguistas e votos de muita força na tecla!

Sobre o poema... Muito apropriado para estes tempos - negros - em que parecemos estar todos à espera do fim, ou simplesmente, carregamos a morte na algibeira (umas vezes por dentro, outras por fora da roupa que somos...)
Beijos!

Medeia disse...

Obrigado, el eme.
Um sol em cada dia para ti (para vós).
Volta. Sempre.